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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

UM IRMÃO ALÉM DO ALÉM


O mundo das lembranças é belíssimo. Não sei se no cérebro ou se no coração, ou em algum lugar na infinitude de nosso ser. Guardamo-las como se em nossas entranhas houvesse inúmeras gavetas e nelas guardassemos pessoas inteiras, como num arquivo onde se guarda papeis para na necessidade, buscá-los.

Numa dessas gavetas internas guardei você. Hoje ressuscito-lhe ao meu bel prazer.

Penso-lhe alto, moreno, cabeleira preta e cheia, olhos grandes e vivos. Vaidoso, cônscio da beleza masculina que possuía. Sempre vestido de branco. Calças no estilo sanfona, como era o costume da época. Cabelos à base de vaselina ( o gel de hoje), alegre e sempre com um sorriso nos lábios, senhor de um bom humor e de brincadeiras intermináveis. Grande dançarino e " um puto " mulherengo, todas sempre às voltas dele. Trabalhador e enrolão, numa mistura de baiano e carioca. Afetivo e sonhador.

Para quem ele gostava, muitos sonhos tinha. Parece-me que era eu uma das pessoas que ele mais amava, pelo carinho que para comigo tinha e com o qual sempre me observava ( e foi minha primeira e única babá).

Não era dado a igrejas, mas alguns fenômenos espirituais com ele acontecia.

A ele devo muito espiritualmente. Tinha um grande senso de liberdade e quando as prisões emocionais ocorriam, principalmente no plano materno, simplesmente fugia, levando sobre o corpo toda a roupa que podia, vestindo-as umas sobre as outras.

Acostumado a pernoitar fora, só depois de três ou quatro dias de ausência é que se notava a fuga.
Graças a elas metade do país conheceu.

Em uma dessas viagens, não mais voltou. Deixou no vazio a satisfação de tê-lo guardado na lembrança, a alegria da presença bem humorada, que mesmo nas situações dificeis uma tirada satírica de humor fazia, relevando o drama a uma simples piada.

Partiu simplesmente e nunca mais aqui voltou...

Foi um grande amigo,um camarada, um irmão!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

UTOPIA



Basta um simples movimento de olhos que se fecha para me transportar no tempo e me encontro em uma estrada qualquer deste torrão. Um carro branco como a neve e ao lado, um amigo que fala sem parar, com leve sotaque ítalo-brasileiro. Novamente viajo para terras longínquas, de onde veio para a mim se fazer presente.

Divina é a nossa capacidade de ir e vir, do passado ao presente, inusitadamente sonhando o futuro, desejando ver com os olhos do corpo alguém que guardamos carinhosamente nos olhos da lembrança ( lembrança tem olhos?!) As lembranças são como video-type que nos traz de volta seres amados que partiram como aves de arribaçã, que sempre voltam ao ponto de partida, em busca do alimento que os mantém no eterno vai-e-vem para a saciedade da fome.

Estamos sempre em busca de amigos que nos complete e estes tem o poder de nos enriquecer, nos engrandecendo com suas presenças . Pena é que, amigos verdadeiros partem, enquanto os que ficam nem sempre amigos são. Talvez para nos enriquecer de alguma outra forma, caso contrário, não cruzariam nosso caminho. Os que partem, partem para que percebamos o quanto são necessários à nossa existência. Assim é que ao partir, ficam conosco para sempre e o mais bonito é que sempre os teremos conosco, porque não é mais a presença física que temos ( o que é o corpo senão nossa prisão? ), mas uma forma etérea que permanece viva em nosso coração.

E o amigo se eterniza dentro de nós!

Um dia Jesus disse:" Eis que estarei contigo todos os dias". Um amigo nunca parte. Ele é nosso amigo! E ele está sempre conosco. Basta fechar os olhos: seu sorriso aparece, ouve-se-lhe a gargalhada, o seu pranto. Sente-se-lhe o calor de suas mãos, o aconchego do coração. Nos sentimos alegres e tristes, porque a distancia existe a nos impedir o abraço... Mas a certeza há de que com o amigo fomos felizes em algum lugar do mundo e que este lugar é diferente porque nele o amigo deixou a sua marca; então toda a nossa casa se ilumina com nova luz, como se raios de um novo sol surgisse só para nós.

Minha casa mudou como se o calor amoroso da amizade a tivesse revestido com novas tonalidades, caleidoscópio sonoro que mostra as mil faces do amor, misto de universalidade e particularidades que só quem tem amigos conhece. Casa não é paredes. Casa somos nós que abrigamos muitos no coração.

Amigo é aquele que tem capacidade de acolher quem de afeto necessita, que mesmo vivendo só tem uma multidão de gente povoando o pequeno músculo que pulsa no peito, passeando indolentemente no pais das lembranças. Para o amigo nunca é perda de tempo ir ao encontro do outro, chorar de alegria, descobrir um mundo inteiro à construir e ousar viver utopias ...

Coincidentemente no rádio toca neste momente:

" Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito..."

Amigo, abro os olhos e o silêncio me leva à oração e que Deus permita este " qualquer dia amigo,a gente vai se encontrar".

Viva uma páscoa feliz!

segunda-feira, 16 de março de 2009

100 PALAVRAS


O mundo interior é cheio de vidas que insistem em vir à tona.

Quantas emoções, quantos olhares que nascem e duram apenas um segundo, deixando no exterior a sensação feliz de que a vida está valendo a pena...

Não, não se precisa de palavras para que o sentimento aflore, ademais, quantas palavras manifestam o vazio do coração! Enchemos por vêzes nosso mundo de frases feitas, orações completas que são facas de dois gumes, que se não ferem no momento que são pronunciadas, ferirão mais tarde...

Melhor deixá-las abandonadas, permitindo que, apenas o corpo fale.
Nossos órgãos de sentidos se encarregaram de manifestar tudo o que sentimo. Nossa visão torna-se aguçada, emitindo uma linguagem que ora se faz convite, ora se faz repreensão...

Nosso tato provoca sensações gerando reboliço, impulsionando forças de um vulcão. Nosso paladar se refaz num senso gustativo apurado para o novo alimento com sabor de mar, sabor ocre, sabor de paixão.

A audição ouve sons ininteligíveis, mas cheio de compreensão. Entendemos o silêncio como forma de canção.

Nossas narinas se dilatam para apreciar o cheiro do macho e da fêmea que se atraem num rico jardim de odores que transformam dois mundos em um só chão.

Dois corpos que se atraem e se transformam em apenas um. Duas metades que se encaixam. É o côncavo e o convexo numa perfeita união de impares contida na evolução do universo que, em harmônia e equilíbrio perfeito, se unem para completar a criação.

É a linguagem maior do amor; sem palavras, sem sonhos, sem futuro, porque o futuro é este instante. É o presente acontecendo entre nossas mãos...

...e é para viver o hoje que nascemos e estamos aqui!!!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

COMO ALMA GÊMEA





Olha quero lhe falar da minha importância em sua vida.


Você nem percebe o quanto estou dentro de você e dentro dela!


Veja meu amigo, estou sempre perto de você, como o seu coração que bate ( eu por mim, tilinto!) incessantemente como se quisesse lhe transmitir a vida.


Ora consigo levá-lo para outras terras, outros continentes: ora lhe falo perto e sem querer obrigo-o a fechar os olhos quando sôo-lhe alto aos ouvidos.


Às vezes assumo vozes distantes, como fantasmas do passado, outras é o presente que insiste em ficar. Mas meu querido, você não pode reclamar, sou tão providencial que hoje mesmo consegui lhe ajudar na solução de um grande negócio e nem o trabalho de arredar pé de casa teve.

Depois dei-lhe uma má notícia, Sei que sofreu, mas que podia fazer?

Fiquei com pena de você , mas era preciso que soubesse.


Estou tão próximo e você necessita tanto de mim que um sócia meu até já adquiriu para acompanhá-lo casa-a-fora. Então colo-me ao seu ouvido, sinto sua respiração e sua voz bem próximo as minhas cavidades sonoras e passo a perseguir-lhe os passos, tomo conta de todo o seu ser. Já não dou tempo nem para o banho nem para o sono . Sou possuidor do seu corpo e do seu coração. Sou tão você que lhe perturbo a paz e a amizade.


Quem ousa tomar-me o lugar em teu coração, sai danado da vida comigo, pois lhe abrigo a falar a prestação. Chato, não é? Mas é que sou tão possessivo na minha função de comunicar ( fatos importantes, fofocas e os últimos acontecimentos, que juro, se preciso for, provoco um reboliço tal em sua vida que irei viajar consigo e então não poderá afastar-se de mim nunca mais. Serei seu ar, sua fome, sua emoção e seu espírito. Você então viverá sob meu controle e no lugar do tum-tum que não acaba mais de teu coração ao avistar a pessoa amada, se ouvirá apenas o som grave e irritante do meu penetrante tilintar:


-Trim-trimm-trimmm-trimmmm!!!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

ENROLADOS NOS PAPEIS




N'outro dia parei estarrecida ante a dificuldade de encontrar um papel. Até aí nada demais, afinal o que é um papel? Simples derivado de vegetais que transformado pela ação química adquire diversas utilizações: uns embrulham ricos presentes que alegram os momentos festivos da vida; outros os alimentos que nos mantém vivos e outros limpam as sujeiras de partes do corpo.
Até aí tudo bem.

Há porém outros papéis bem mais complexos e difíceis de se lidar. São os papéis que vamos aos poucos desempenhando pela vida afora.

Há o papel criança:
* bem amada, super protegida, zelada e mimada ( tanto que não dá para ser útil, tal o zelo!).

* abandonada, amassada, jogada aos cantos e esquinas da vida, como se um brinquedo velho fosse...

*adolescente: buscando seu caminho teima em ser acreditado em sua utilidade; alguns acreditam que servem para embrulhar alguma coisa, outros os pensam inúteis e os deixam de lado - esquecidos até perderem o prazo de validade e cairem no esquecimento de sí mesmo.

Há o papel de mil e uma utilidade:
Embrulham tudo, assumem qualquer presente: coisas velhas e sem serventia, sapatos, roupas e jóias; finos móveis , carros e casas.... Fazem o super papel ( heróis?) ! Outros se saem mal não conseguem embrulhar nada: nele tudo se escreve e tudo se apaga. É riscado, amassado, rasurado. Pensamentos são anulados, suprimidos os ideais: são rotos e desvalorizados.
É o caos, é o lixo , é o fogo.

Há também os papeis títulos:
Hierarquizados, arrumados de cima pra baixo, socialmente valorizados, mas espezinhados na essência pela sede de poder e de estar entre os melhores papeis: são do tipo papel couchet.

Aí, chega o dia em que, preocupado, cônscio de desempenhar bem o papel que lhe cabe, percebe abismado que, como ser de nada vale: os papéis tomaram-lhe o lugar, o espaço, a personalidade.

Eu o vejo, toco, sinto sua infinitude - mas prova-me, por favor, que existes. Apresenta-me o papel do teu nascimento. Tens companheira? Nas noites de frio ela te aquece com o calor do corpo? Te dá afeto e carinho? E teu deslevo por ela é imenso? Cadê o papel do casamento? Sem ele teu amor não existe, nem consta nos livros sociais...

Teus filhos são bonitos e preenchem o vazio de teu coração suavizando-te os sofrimentos? É por eles que labutas noites e dias, enfrentas o frio e o calor das horas de trabalho? Existe o labor diário para alimentá-los e mantê-los saudáveis mas... já passaste pelo cartório para provar que existem mesmo?

Ah, agora é tua mãe que morreu. Lágrimas quentes e incontroláveis rolam-te pelo rosto. A dor dilacera teu coração. Nunca mais ouvirás o som da voz cansada pelos sofrimentos da vida, nunca mais os passos miúdos rondando pela casa em busca do quê fazer, nunca mais o afago nos cabelos e a palavra amiga a te confortar. O corpo está frio num caixão qualquer. Perdeste o pedaço mais importante de ti mesmo: a origem de de tudo o que és. Para livrá-la da decomposição visível e desprezada pelos sentidos humanos necessitas do papel-óbito, provando assim, indubitavelmente a sua morte.

E assim a existência da obra preciosa do Criador é transformada em um simples papel que depois de amassado, rasgado, triturado, torna-se uma massa molhada por lágrimas do oceano insecável dos teus olhos, que se vêem transformados em papel marchet, que se molda de acordo com os ditâmes da sociedade que tu mesmo fizeste.

Até aí, tudo bem, afinal estamos todos mesmo enrolados nos papéis escolhidos por nós mesmos!

E é neste contexto de embrulhados e embrulhantes que um dia, cansados de tanto ansiar por desempenhar um papel que represente a imagem do que somos realmente nos decidimos pelo papel reciclado buscando uma nova chance de fazer diferente, com nova cor, um outro destino.

Até aí não mais tudo bem... mas agora está tudo bem!