Zeca era um grande filão de café dos vizinhos. Meio pão duro, tinha o hábito de visitar amigos sempre nas horas das refeições.
Dona Idalice - a vizinha do lado era sempre a preferida para o café da manhã. Todos os dias ia ele bater na porta de dona Idalice.
Não bastando o inconveniente da visita, o abusado ainda se achava no direito de exigir.
- Café quente, cumadi, pois muié e café só presta quente.
Certo dia, dona Idalice havia tirado o café do fogo bem na horinha que ele chega.
Cafézium na hora, hein cumadi Dalice? O cheirium tá do bom. Bota aí na caneca, vai...
Dona Idalice capricha naquele café que sai do bule sereno, sereno... nem fumaça sai de tão quente!
Zeca também tinha o hábito de tomar o café sorvendo tudo de uma vez só, num chupado barulhento que fazia até dó.
Nesse dia, porém, após beber o café como de costume, ele pára de repente, bota a caneca na mesa e fica a olhar para o teto onde as telhas eram sustentadas por caibros próximos uns dos outros.
- Oxente cumpadi Zeca, o que qui o sinhô tá óiando?
Então muito sério ele diz:
- Cumadi Dalice um amigo meu tinha o custome bastante istranho de de veiz im quando oiá pra riba e ficar contando os caibros da casa de quem lhe dava café.
Satisfeita a curiosidade Dona Idalice se volta para sua caneca de café e a leva a boca. Uma forte exclamação lhe escapa:
-Vige Maria qui café quente!
- Cumadi Dalice jura que não foi de propósito? Óia minha pobre língua (a língua do Zeca, coitada, toda despelada, vermelha feito um pimentão maduro, estava à mostra.).
Ainda três dias depois o Zeca falava com cuidado, comia com cuidado e principalmente tomava na casa do vizinho, café temperada com água para não correr o risco de voltar a contar caibros.