sábado, 25 de julho de 2009

O HOMEM QUE CONTAVA CAIBROS




Zeca era um grande filão de café dos vizinhos. Meio pão duro, tinha o hábito de visitar amigos sempre nas horas das refeições.

Dona Idalice - a vizinha do lado era sempre a preferida para o café da manhã. Todos os dias ia ele bater na porta de dona Idalice.

Não bastando o inconveniente da visita, o abusado ainda se achava no direito de exigir.

- Café quente, cumadi, pois muié e café só presta quente.

Certo dia, dona Idalice havia tirado o café do fogo bem na horinha que ele chega.

Cafézium na hora, hein cumadi Dalice? O cheirium tá do bom. Bota aí na caneca, vai...

Dona Idalice capricha naquele café que sai do bule sereno, sereno... nem fumaça sai de tão quente!

Zeca também tinha o hábito de tomar o café sorvendo tudo de uma vez só, num chupado barulhento que fazia até dó.

Nesse dia, porém, após beber o café como de costume, ele pára de repente, bota a caneca na mesa e fica a olhar para o teto onde as telhas eram sustentadas por caibros próximos uns dos outros.

- Oxente cumpadi Zeca, o que qui o sinhô tá óiando?

Então muito sério ele diz:

- Cumadi Dalice um amigo meu tinha o custome bastante istranho de de veiz im quando oiá pra riba e ficar contando os caibros da casa de quem lhe dava café.

Satisfeita a curiosidade Dona Idalice se volta para sua caneca de café e a leva a boca. Uma forte exclamação lhe escapa:

-Vige Maria qui café quente!

- Cumadi Dalice jura que não foi de propósito? Óia minha pobre língua (a língua do Zeca, coitada, toda despelada, vermelha feito um pimentão maduro, estava à mostra.).

Ainda três dias depois o Zeca falava com cuidado, comia com cuidado e principalmente tomava na casa do vizinho, café temperada com água para não correr o risco de voltar a contar caibros.

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